"Desde cedo
eu ouço o segredo
das coisas
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Os símbolos falam comigo,
as pessoas me pedem conselhos
e em segredo, nos meus sonhos,
eu danço com a lua...
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Eu sou um descendente
dos velhos oráculos,
das conchas do mar,
das grutas, dos diários
e dos corações maternos
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Eu sou a flauta oca
onde o infinito
toca - desde sempre -
a sua canção!"[1]
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Temos muitas coisas pra descobrir, e esse rapaz faceiro e maroto aí na imagem abaixo será nosso personagem principal: O Louco!
Observe bem ele em todas as imagens no texto, você nem imagina o quanto ele tem a dizer!
O LOUCO é alguém do bem. E é absolutamente livre, e por mais que
alguns duvidem, é realizador, pois é cheio de coragem e força de vontade. É
este nosso louco interior que nos empurra para a vida, nos levando ao
auto-conhecimento. Quando encontramos este louco interior, estamos em contato com
o vazio natural e com o silêncio interior. É o momento mais livre da vida. Todos
temos um pouco dele, mas muitas vezes o medo de viver ou o medo do que vão pensar
a nosso respeito paralisa e o LOUCO se perde dentro de nós.
Na famosa carta do tarô, um homem que parece um andarilho, leva
uma vara na mão com uma pequena trouxa. Veste-se como os bobos da corte, um
cachorrinho parece lhe arranhar a perna ou pedir atenção. As vezes aparece com uma flor em sua mão que simboliza a primavera, o desabrochar para uma nova
realidade e até o romantismo.
Para alguns, a trouxa simboliza o fato de que ele ainda guarda coisas do seu passado, apegos que ainda não soube abandonar. Outros vêem o lado positivo: ele carrega o mínimo e faz sua caminhada do modo mais leve possível. A trouxa também pode representar a essência de si mesmo, aquilo que é imutável e não podemos nos desfazer.
O cão, em tempos passados era associado a caçadores, exploradores.
Nessa condição, os cães sempre caminham à frente do caçador. Não é o caso do louco,
aqui o cachorrinho vai atrás. Em algumas figuras parece ele ter rasgado a calça
do louco. Mas ao lembrar que o cão é o melhor amigo do homem, podemos entender
que ele não vê problema algum em caminhar com o louco. Talvez se sinta na
verdade muito bem perto dele. Em alguns baralhos o cãozinho parece estar tentando chamar a atenção para um abismo em sua frente.
Em muitos baralhos aparece à beira de um precipício. Caminha em
direção ao abismo correndo o risco de despencar.
Mas até onde se sabe ele não cai, a intuição o impede e o guia pelo mundo, apesar de que possivelmente não sabe muito bem porque está indo em certa direção, nem o que tem no final do caminho.
Mas até onde se sabe ele não cai, a intuição o impede e o guia pelo mundo, apesar de que possivelmente não sabe muito bem porque está indo em certa direção, nem o que tem no final do caminho.
Ao contrário do
que ocorre nos demais arcanos, a margem superior da lâmina não tem numeração,
razão pela qual se costuma atribuir-lhe o valor de arcano 0.
Titi Vidal diz que "o Louco é um coringa, é o número zero e justamente por isso, é livre para estar em qualquer posição que desejar."
É o zero, um vazio que dá origem à uma
existência, o zero é sempre um símbolo de todas as potencialidades. E se
prestamos atenção, notamos que o desenho do número zero, forma um círculo
fechado, símbolo da completude. Assim, segue o caminho dos iluminados, saindo
do caos e rumando em direção à alguma coisa.
Titi Vidal diz que "o Louco é um coringa, é o número zero e justamente por isso, é livre para estar em qualquer posição que desejar."
Nanda Oliver fala que “este homem no Tarô de Marselha, o Louco, é
representado ora pelo 0, ora pelo 22. Dessa forma, ele é o primeiro arcano
maior para uns e o último para outros.
Eu, particularmente, o vejo como o primeiro arcano uma vez que antes de tudo ser criado, há o caos. É lá que o Louco está: no principio de tudo, ali quando nem nós mesmos sabemos para onde ir, ou o que fazer.
Onde a liberdade para escolher o caminho que quisermos pode nos levar a atos impulsivos e inconsequentes. Esse é o perigo do Louco!”
Eu, particularmente, o vejo como o primeiro arcano uma vez que antes de tudo ser criado, há o caos. É lá que o Louco está: no principio de tudo, ali quando nem nós mesmos sabemos para onde ir, ou o que fazer.
Onde a liberdade para escolher o caminho que quisermos pode nos levar a atos impulsivos e inconsequentes. Esse é o perigo do Louco!”
Carmem Arabela diz que “O LOUCO
convida a sonhar, sentir um Zero, um nada, é sentir um Tudo, um enorme espaço
vazio a ser desenhado com o que você quiser. Ele te dá o espaço para que você
preencha com seus sonhos. E pouco se precisa para realizar. Ele tem sua
própria verdade, por isso acredita em si mesmo.
Segue seu coração, mesmo que
pareça tolo. Dele se espera tudo e não se espera nada. Seu potencial é
ilimitado. É alguém com total liberdade, seja pela ingenuidade de não
saber muito sobre si mesmo ou pela sabedoria de caminhar em busca de
auto-conhecimento.”
Liberto dos domínios do ego, mais longe ele irá. Mesmo que isso pareça distante de seus conhecimentos; sua liberdade e aceitação faz com que, no âmago de sua essência, repouse esse profundo desejo de ir além do que ele é. Nada mais o prende, nem mesmo o próprio “eu”.
Harry Potter Tarot - The Fool |
Liberto dos domínios do ego, mais longe ele irá. Mesmo que isso pareça distante de seus conhecimentos; sua liberdade e aceitação faz com que, no âmago de sua essência, repouse esse profundo desejo de ir além do que ele é. Nada mais o prende, nem mesmo o próprio “eu”.
Numa vasta mistura de possibilidades, à distância de valores que lhe
foram impostos, tranquilamente o Louco percorre caminhos e provavelmente acaba por
encontrar outros tão loucos e livres como ele, que estão abertos e puros
para absorver a verdadeira sabedoria nos mistérios da vida.
É um ponto de
partida, uma abertura ou início, que envolve um novo mundo. E o Louco caminha
em direção ao novo motivado pela ousadia, pela ingenuidade, pela paixão e pelo
desprendimento. Mas apesar de seus hábitos excêntricos, precisa ter cuidado com
a alienação e atitudes de muita imprudência.
Seu entusiasmo é
evidente, ele parece estar sorrindo, contente. Apesar do misto de curiosidade e
incertezas em relação ao que vem pela frente. Ele segue seu caminho movido pela
intuição, pelo coração, e não pela razão.
Representa o nosso impulso para
sobreviver e mudar, indo sempre em busca de novos caminhos sem perder a alegria
e a capacidade de êxtase. Sempre imprevisível, traz em si o elemento surpresa.
Nele nada é certo ou regular, ele acrescenta o novo e o não familiar à
situação.
O LOUCO acredita, busca e persegue do seu jeito seus sonhos, o
desejo de seu coração. É espontâneo, tem fé. Ele parece crer que é necessário
que se viva o momento, tenha confiança e não se importe com os aborrecimentos.
O LOUCO representa o
próprio homem caminhando em busca da evolução, mas será preciso que aprenda a
entrar em contato consigo mesmo para que possa conhecer-se.
Ele representa a liberdade da opção da vida; o andarilho que caminha seguindo o seu instinto e agindo de acordo com a sabedoria intuitiva que carrega dentro de si.
Ele representa a liberdade da opção da vida; o andarilho que caminha seguindo o seu instinto e agindo de acordo com a sabedoria intuitiva que carrega dentro de si.
É alguém que apresenta dificuldades para se adequar, fazendo com
se sinta perdido. Por causa da dificuldade de encontrar algo que o realize,
muitas vezes, se sente insatisfeito ou desiludido, o que o faz estar sempre
buscando algo novo.
Cid Marcus Vasques que é professor de Mitologia, conta que “os
loucos na antiguidade grega eram sempre seres tocados pelo divino [...] O louco
sempre esteve fora das normas, das regras sociais. Uma das prerrogativas do
louco é a de poder dizer o que lhe passe pela cabeça, dizer a verdade sem temor
nenhum de ser punido.
Pela roupa que veste e por outros símbolos que carrega, o louco pode ser visto como uma representação da sabedoria espontânea, ingênua, dos chamados "loucos de Deus", de inúmeras tradições místicas.” Vale ressaltar que curiosamente sua imagem foi encontrada em uma bíblia do século XVI.[2]
Pela roupa que veste e por outros símbolos que carrega, o louco pode ser visto como uma representação da sabedoria espontânea, ingênua, dos chamados "loucos de Deus", de inúmeras tradições místicas.” Vale ressaltar que curiosamente sua imagem foi encontrada em uma bíblia do século XVI.[2]
João Cláudio Fontes cita que “Existe no Budismo, no Sufismo, no
Hinduísmo e até no Cristianismo (São Francisco, por exemplo) um caminho chamado
"Crazy Wisdom", Sabedoria Louca. São os "Loucos de Deus"
que dizem que, na verdade, a maioria das pessoas é que são loucas, vivendo as
suas vidinhas medíocres e sem graça, como robôs. Eles desafiam as
convenções e se comportam, de acordo com os padrões convencionais, como loucos.”
Bete Torii diz que “no caso desse Arcano fica claro que ele não
foi desenhado apenas como um símbolo, mas como retrato de uma condição humana
que era reconhecida e vivida por muitos. Condição possivelmente vista como tão
inerentemente humana, mas ao mesmo tempo tão diferenciada e fora da “ordem
social” estabelecida.”
“Loucos são apenas os significados não compartilhados.
A loucura não é loucura quando é compartilhada”
– Zygmunt Bauman.
O filósofo Edgar
Morin nos alerta que não somos simplesmente "homo sapiens sapiens",
somos em sua concepção "homo sapiens demens" que simboliza a nossa
natureza desmedida.
Homo é também demens: manifesta uma afetividade extrema, convulsiva, com paixões, cóleras, gritos, mudanças brutais de humor; traz em si uma fonte permanente de delírio; crê na virtude de sacrifícios sangrentos; dá corpo, existência, poder a mitos e deuses da sua imaginação.
Homo é também demens: manifesta uma afetividade extrema, convulsiva, com paixões, cóleras, gritos, mudanças brutais de humor; traz em si uma fonte permanente de delírio; crê na virtude de sacrifícios sangrentos; dá corpo, existência, poder a mitos e deuses da sua imaginação.
Há no ser humano um salão permanente de Ubris, a desmesura dos
Gregos. A loucura humana é fonte de ódio, crueldade, barbárie, cegueira. Mas
sem as desordens da afetividade e as irrupções do imaginário, sem a loucura do
impossível, não existiria entusiasmo, criação, invenção, amor, poesia.
“Cada momento da vida seria triste, fastidioso, insípido, aborrecido, se não houvesse prazer, se não fosse animado pelo tempero da loucura.”
(ERASMO DE ROTTERDAM)
Hegel afirmou que a loucura não seria a perda abstrata da razão: "A loucura é um simples desarranjo, uma simples contradição no interior da razão, que continua presente". A loucura deixou de ser o oposto à razão ou sua ausência, tornando possível pensá-la como "dentro do sujeito", a loucura de cada um, possuidora de uma lógica própria.
Na Biblía Sagrada a família de Jesus chegou a considera-lo como louco (Marcos 3:20-21), assim como outras pessoas (João 10:19-21). O apóstolo São Paulo em uma explicação diz que deveríamos nos tornar loucos para então sermos sábios(1 Coríntios 3:18-20). Segundo o filósofo polonês Zygmunt Bauman, a loucura depende apenas do ponto de vista.
Obra de Romero Britto/semelhança com O Louco |
E por fim, O Louco sabe: Uma vez que uma jornada do coração (e de coração) se inicia, não pode permitir que nada tire seus pés da estrada.
desejo felicidadeS🙈🙉🙊
'MEMENTO MORI'💀
Daniel Bastos
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Referências:
[2] Xilogravura da Biblia Sacra Vulgatae Editionis Sixti Quinti Pont. Max. (Veneza, Damianum Zenarum, 1603)
. Alberto Cousté, O Tarô ou a máquina de imaginar. Rio, Ed. Labor, 1977.
. MORIN, Edgar: Amor, poesia, sabedoria. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012.
. ______. O método 5: a humanidade da humanidade. Porto Alegre: Sulina, 2012.
. Jean Chevalier e
Alain Gheerbranty, Dicionário de Símbolos. José Olympio Ed. 1990.. Sallie Nichols, Jung e o Tarô. Uma jornada arquetípica. São Paulo, Ed. Pensamento.
. https://carmenarabelabp.wordpress.com/2011/04/06/0-o-louco/ > acesso em 21/09/18 às 03:48
. http://cidmarcus.blogspot.com/2011/04/o-arcano-0-ou-22-do-taro.html > acesso em 24/09/18 às 02:34
. https://titividal.com.br/o-louco-no-taro-em-nos-e-na-astrologia/ acesso em 22/09/18 às 04:37
. http://www.clubedotaro.com.br/site/m22-Homens-no-taro-o-louco.asp >acesso em 24/09/18 às 12:03
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