A arte carrega discursos poderosos.
E tem a
capacidade de ir além do que a razão possa dar conta.
Afinal, nem tudo é o que de fato parece.
Entre 1928 e 1929, o artista Belga René Magritte produziu uma série
de pinturas intitulada "La Trahison des Images" (A Traição das Imagens). A mais famosa delas é a que está reproduzida acima, “Ceci
n’est pas une Pipe”(Isto não é um Cachimbo), que
surpreendentemente causou muita polêmica desde então, principalmente em razão
de seu aparente nonsense: vê-se um cachimbo e afirma-se que não se
trata de tal.
Este quadro questiona os conceitos de definição e
representação. Nem tudo é o que parece ser. Esse quadro apresenta, assim , um certo desafio à ordem social e até mesmo um ataque à maneira de ver e de pensar geralmente
aceita. Sem dúvidas, inúmeras idéias, reflexões e posicionamentos filosóficos podem ser encontrados em cada pincelada. E Por que não dizer que o quadro de Magritte em sua genialidade pode nos fazer pensar até nossa existência.
Gustavo Bernardo, Doutor em Literatura Comparada diz que: "Magritte
entende que a nossa própria felicidade depende “de um enigma unido ao homem
e nosso único dever é o de tentar conhecê-lo”. Nosso dever é o de tentar
conhecer o enigma, sim, mas sabendo da impossibilidade de conhecê-lo verdadeira
e completamente, porque “a imbecilidade consiste em crer que
compreendemos o que não compreendemos”, palavras do próprio pintor."
Fortemente influenciado pela
psicanalise de Freud, o surrealismo representou uma reação contra o
Racionalismo. “A Traição das Imagens” desafia a convenção linguística de
identificar uma imagem de algo como a coisa em si. A princípio, o ponto de
Magritte aparece simplista, quase ao ponto de uma provocação: Representando um
trabalho que é extremamente paradoxal. E obtendo como resultado interpretações e opiniões que vão do encantamento ao desprezo, como é possível a toda arte.
Júlia Medina destaca
que: "Temos uma relação complexa com a arte. Antes de tudo, ninguém
sabe muito bem como defini-la, mas é fácil demais julgar algo que achamos ruim,
ou não gostamos, como não pertencente daquilo que é Arte. No final, a arte pode
ser muitas coisas e também pode se sobrepor e acumular outros significados e
conceitos."
Ela prossegue dizendo que: "Uma
das coisas mais legais sobre arte é que ela pode ser política. A arte
pode mudar o mundo, mudar a forma como as pessoas pensam e processam
informações, a arte carrega discursos poderosos que moldam a nossa cultura.
Contudo, a arte também é estética, é beleza, é emoção. A arte mexe com a gente
de muitas formas e, para isso acontecer, precisamos abaixar nossas defesas, nos
colocar mais vulneráveis para sermos afetados por ela, para podermos sentir. A
arte não precisa ser uma coisa ou outra, pois na arte cabe todas as definições,
afinal, quem define a arte é quem a vê."
E ainda: "A arte nos faz vulneráveis para
sentir outras coisas, para sermos afetados por outras emoções, a arte pode nos
trazer novas experiências."
Mais recentemente o aclamado livro "A culpa é
das Estrelas" de Jhon Green, que também deu origem ao filme de mesmo
título, se utilizou dessa obra de Magritte. A protagonista Hazel Grace usa uma
camiseta com a pintura "Ceci n'est pas une pipe" na frente.
A obra virou inspiração pra muitas releituras como a do artista brasileiro de identidade @savron na imagem acima ao lado da personagem Hazel Grace(Shailene Woodley), e até mesmo pra humor como na charge abaixo:
Legenda: "Eu sabia exatamente quem eu era.
meu conflito de
identidade começou quando
eu conheci o trabalho de um tal de Magritte ".
desejo felicidadeS🙈🙉🙊
'MEMENTO MORI'💀
Daniel Bastos
Ficha Técnica da pintura:
TÍTULO : La trahison des images (A Traição das Imagens)
AUTOR:
René FRançois Ghislain Magritte (1898-1967)
DATA:
1929
TÉCNICA:
Óleo sobre Tela
DIMENSÕES:
63,5 x 93,98
LOCALIZAÇÃO: Museu de Arte do Condado de Los Angeles -USA
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