A vida contemporânea cheia de regras e adestramento fez com que
houvesse uma padronização completa das pessoas, de tal maneira que todos se
comportam do mesmo modo, falam das mesmas coisas, se vestem mais ou menos do
mesmo jeito, possuem as mesmas ambições, compartilham dos mesmos sonhos, etc.
Ou seja, as particularidades, as idiossincrasias, aquilo que os indivíduos
possuem de único, inexistem diante de um mundo tão pragmático e controlado.
Vivemos
engaiolados, tendo sempre que seguir o padrão, que se encaixar em normas
pré-determinadas, como se fôssemos todos iguais. Sendo assim, a vida acaba se
transformando em uma grande linha de produção, em que todos têm que fazer as
mesmas coisas, ao mesmo tempo e no mesmo ritmo, de modo a tornar todos iguais,
sem qualquer peculiaridade que possa definir um indivíduo de outro e, por
conseguinte, torná-lo especial em relação aos demais.
Somos
enjaulados em vidas superficiais e nos tornamos seres superficiais, totalmente
desinteressantes, inclusive, para nós mesmos. Sempre conversamos sobre as
mesmas coisas com quer que seja, ouvindo respostas programadas pelo padrão, o
qual nos torna seres adequados à vida em sociedade.
Entretanto,
para que serve uma adequação que transforma todos em um exército de pessoas
completamente iguais e chatas, que procuram sucesso econômico, enquanto suas
vidas mergulham em depressões?
Qual
o sentido de adequar-se a uma sociedade que mata sonhos, porque eles
simplesmente não se encaixam no padrão? Uma sociedade que prefere teatralizar a
felicidade a permitir que cada um encontre as suas próprias felicidades. Uma
sociedade que possui a obrigação de sorrir o tempo inteiro, porque não se pode
jamais demonstrar fraqueza. Uma sociedade que retira a inteligência das
perguntas, para que nos contentemos com respostas rasas. Então, por que se
adequar?
Os
nossos cobertores já estão ensopados com os nossos choros durante a madrugada.
O choro silencioso para que ninguém saiba o quanto estamos sofrendo. Para
manter a farsa de que estamos felizes. Para fazer com que mentiras soem como
verdade, enquanto, na verdade, não temos sequer vontade de levantar das nossas
camas.
O
pior de tudo isso é que preferimos vidas de silencioso desespero a romper com
as amarras que nos aprisionam e nos distanciam daquilo que grita dentro de nós,
esperando aflitamente que o escutemos, a fim de que sejamos nós mesmos pelo
menos uma vez na vida sem a preocupação de agradar aos outros.
Somos
uma geração com medo de assumir as rédeas das próprias vidas. E, assim, temos
permitido que outros sejam protagonistas destas. É preciso coragem para
retomá-las e viver segundo aquilo que arde dentro de nós, mesmo que sejamos
vistos como loucos, pois só assim conseguiremos sair das depressões que nos
encontramos. É preciso sacudir as gaiolas, já que, como diz Alain de Botton:
“As pessoas só ficam realmente interessantes quando começam a sacudir as grades
de suas gaiolas”. E, sobretudo, é preciso ser inadequado, porque não se adequar
a uma sociedade doente é uma virtude.
Por: ERICK MORAIS
Fonte:Obvius Mag
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