sexta-feira, 14 de setembro de 2018

O Evangelho do Cristo cósmico

O Cristo cósmico:uma espiritualidade do universo

Resultado de imagem para cristo cosmicoUma das buscas mais persistentes entre os cientistas que vem geralmente das ciências da Terra e da vida é pela da unidade do Todo. Dizem: “precisamos identificar aquela fórmula que tudo explica e assim captaremos a mente de Deus”. Esta busca vem sob o nome de “A Teoria da Grande Unificação” ou “A Teoria Quântica dos Campos” ou, pelo pomposo nome de “A Teoria de Tudo”. 

Por mais esforços que se tenham feito, todos acabam se frustrando ou como o grande matemático Stephan Hawking, abandonando, por impossível, esta pretensão. O universo é por demais complexo para ser apreendido por uma única fórmula.
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         Entretanto, pesquisando as partículas sub-atômicas, mais de cem, e as enegias primordiais, chegou-se a perceber que todas elas remetem àquilo que se chamou de “vácuo quântico” que de vácuo não possui nada porque é a plenitude de todas as potencialiades. Desse Fundo sem fundo surgiram todos os seres e o inteiro universo. É representado como um vasto oceano sem margens, de energia e de virtualidades. Outros o chamam de “Fonte Originária dos Seres” ou o “Abismo alimentador de Tudo”.

         Curiosamente, cosmólogos como um dos maiores deles, Brian Swimme, denomina-o de o Inefável e o Misterioso (The Hidden Heart of the Cosmos, 1996).


Ora, estas são caracaterísticas que as religiões atribuem à Última Realidade que vem chamada por mil nomes, Tao, Javé, Alá, Olorum, Deus. O Vácuo pregnante de Energia se não é Deus (Deus é sempre maior) é a sua melhor metáfora e representação.


O fundamental não é a matéria mas esse vácuo pregnante. Ela é uma das emergências desta Fonte Originária. Thomas Berry, o grande ecólogo/cosmólogo norte-americano, escreveu: 

Imagem relacionadaPrecisamos sentir que somos carregados pela mesma energia que fez surgir a Terra, as estrelas e as galaxias; essa mesma energia fez emergir todas as formas de vida e a consciência reflexa dos humanos; é ela que inspira os poetas, os pensadores e os artistas de todos os tempos; estamos imersos num oceano de energia que vai além da nossa compreensão. Mas essa energia, em última instância, nos pertence, não pela dominação mas pela invocação”(The Great Work,1999, 175), quer dizer, abrindo-nos a ela.

         Se assim é tudo o que existe é uma emergência desta energia fontal: as culturas, as religiões, o próprio cristianismo e mesmo as figuras como Jesus, Moisés, Buda e cada um de nós. Tudo vinha sendo gestado dentro do processo cosmogênico na medida em que surgiam ordens mais complexas, cada vez interiorizadas e interconectadas com todos os seres. Quando acontece determinado nível de acumulação dessa energia de fundo, então ocorre a emergência dos fatos históricos e de cada pessoa singular.

         Quem viu esta gestação de Cristo no cosmos foi o paleontólogo e místico Teilhard de Chardin(+1955), aquele que reconciliou a fé crista com a ideia da evolução ampliada e com a nova cosmologia. Ele distingue o “crístico” do “cristão”. O crístico comparece como um dado objetivo dentro do processo da evolução. Seria aquele elo que une tudo com tudo. Porque estava lá dentro pôde irromper, um dia na história, na figura de Jesus de Nazaré, aquele por quem todas as coisas têm sua existência e consistência, no dizer de São Paulo.

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         Portanto, quando este crístico é reconhecido subjetivamente, se transforma em conteúdo da consciência de um grupo, ele se trasnforma em “cristão”. Então surge o cristianismo histórico, fundado em Jesus, o Cristo, encarnação do crístico. Daí se deriva que suas raízes derradeiras não se encontram na Palestina do primeiro século, mas dentro do processo da evolução cósmica.

         Santo Agostinho escrevendo a um filósofo pagão (Epistola 102) intuíu esta verdade: ”Aquela que agora recebe o nome de religião cristã sempre existia anteriormente e não esteve ausente na origem do gênero humano, até que Cristo veio na carne; foi então que a veradeira religião que já existia, começou a ser chamada de cristã.”

         No budismo se faz semelhante raciocínio. Existe a budeidade (a capaciade de iluminação) que vem se forjando ao longo do processo da evolução, até que ela irrompeu em Sidarta Gautama que virou Buda. Este só pôde se manifestar na pessoa de Gautama porque antes, a budeidade, estava lá no processo evolucionáro. Então virou o Buda, como Jesus virou o Cristo.

         Quando esta comprensão vem internalizada a ponto de transformar nossa percepção das coisas, da natureza, da Terra e no Universo, então abre-se o caminho para uma experiência espiritual cósmica, de comunhão com tudo e com todos. Realizamos por esta via espiritual o que os cientistas buscavam pela via da ciência: um elo que tudo unifica e atrái para frente.

Leonardo Boff é articulista do JB on line e escreveu O Evangelho do Cristo cósmico, Record 2010.



Comentário e resenha do livro por Jones F. Mendonça

Resultado de imagem para cristo cosmicoO título do livro soa estranho para os que não possuem o costume de se aventurar por teologias menos ortodoxas. Alguns o julgarão como sendo um livro sobre esoterismo, Nova Era ou outras correntes místicas que estão tão na moda, mas não se trata disso.

Boff busca nas epístolas paulinas, na patrística, na escolástica e em pensadores modernos as bases para a construção de seu pensamento. Dentre todos estes, sua maior ênfase está no pensador místico católico Teilhard de Chardin. Quem nunca teve contato com seus escritos certamente terá dificuldade em compreender termos como “noosfera”, “teosfera”, “crístico”, “pancristismo”, etc. Uma solução possível para esse problema seria a inclusão de um glossário no final da obra.

O problema da unidade do Todo, tema central do livro, é uma questão relevante e que merece atenção dos teólogos modernos. Desde os gregos havia a idéia de que o átomo não se podia dividir. Mais tarde descobriu-se que ele é formado por partículas ainda menores, tais como prótons, elétrons e nêutrons. 

Novas pesquisas revelaram que há ainda as chamadas “partículas sub-atômicas”, que ora se comportam como matéria, ora como energia, mostrando que tudo o que existe no universo é pura energia condensada (E=MC²). Os místicos, já mesmo antes destas descobertas, entenderam que essa “energia” que tudo permeia é o Espírito Divino, ou como sustenta Teilhard de Chardin, o “Cristo no coração da matéria”.Resultado de imagem

Imagem relacionadaEssa descoberta também nos fez pensar que somos todos constituídos dos mesmos elementos. 

O solo lunar, os meteoros que “caem” na terra, e até mesmo as estrelas são feitos de “poeira cósmica”. 

Quando morremos viramos pó e esse pó volta à terra, podendo mais tarde se transformar em um pé de alface, um jambeiro ou quem sabe em um belo ipê amarelo.

Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, já dizia Lavoisier. “O que é já foi, o que será também já foi”, já dizia o enfadado Coelet (Ec 3.15). 


Boff procura mostrar que esse ciclo é dinâmico e progressivo. Por meio dele o cosmos caminha numa evolução contínua, que culmina com a parusia, momento em que Deus se reintegrará ao cosmos pondo fim a essa evolução. 

Tal concepção é estranha no nosso meio evangélico, já que sofremos uma forte influência da escatologia joanina, que concebe o universo sendo assolado por catástrofes cósmicas no fim dos tempos. Já a escatologia paulina fala da consumação de todas as coisas em Deus, quando Ele for tudo em todos. Não há referências à destruição, mas à restauração e plenitude (pleroma). Afinal, qual deles descreve o melhor modelo?

É preciso admitir que a cristologia cósmica é bastante sedutora, principalmente após a queda do paradigma mecanicista newtoniano. O próprio Einstein, um dos responsáveis pela queda desse modelo certa vez disse que: 
Afirmo com todo o rigor que a religião cósmica é o móvel mais poderoso e mais generoso da pesquisa. [...] O espírito científico, armado fortemente com seu método, não existe sem a religiosidade cósmica”. (Como vejo o mundo, pp. 22-23).

Afinal quem tinha razão, Paulo ou João?







desejo felicidadeS🙈🙉🙊

'MEMENTO MORI'💀



Daniel Bastos

Referencia:

BOFF, Leonardo. O evangelho do Cristo cósmico. Rio de Janeiro: Record, 2008, 192 pp.

Originalmente em:

https://leonardoboff.wordpress.com/2016/09/23/o-cristo-cosmicouma-espiritualidade-do-universo/
http://numinosumteologia.blogspot.com/2009/09/o-evangelho-do-cristo-cosmico.html

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