sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Hermes - o deus que é mó parceiro



Eu não poderia iniciar uma coluna sobre mitologia com outro deus grego que não fosse o Hermes, afinal ele é “o cara”, ou será "o deus"? 

Ele é o deus que possui o maior número de epítetos* da cultura grega! *Epíteto é um adjetivo, uma expressão que, associado a um 

nome, que o qualifica, o descreve.


Hermes é um deus dicotômico por natureza, nascido de Zeus - o deus da pólis - e de Maia - uma ninfa das montanhas – pertence a todos os lugares e isso justifica os seus inúmeros e diferentes epítetos. Com apenas um dia de nascido, Hermes foi enfaixado e colocado dentro de um salgueiro, numa caverna do monte Cilene, enquanto sua mãe subia o Monte Olimpo para dizer que seu filho nascera morto, pois Hera, esposa ciumentíssima de Zeus, estava tentando impedir que Maia tivesse este filho. No momento em que é deixado pela mãe, Hermes se desfez das faixas e viajou até a Tessália para roubar o rebanho do rei Admeto, que estava sob o cuidado do deus Apollo, devido a um castigo de Zeus.


O bebê prodígio fez com que os animais andassem com as patas invertidas e prendeu um ramo de folhas em suas caldas para que as marcas dos passos fossem parcialmente apagadas Hermes percorreu quase toda Hélade tocando o rebanho e, contendo seu desejo por carne, ainda sacrificou duas novilhas para os deuses incluindo-se entre os olímpicos, formando o então panteão de doze deuses. 

No caminho, Hermes se depara com uma tartaruga e, de sua mente brilhante surge então a idéia de um instrumento musical, com o casco e as tripas da tartaruga ele cria a primeira lira, que posteriormente servirá de troca pelo rebanho de Apollo. Devido a esta primeira façanha, Hermes é considerado o deus dos pastores, aderindo aos epítetos* de Karneios - condutor de rebanhos e Kriophoros – O que leva o cordeiro.

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A primeira lira
Por ter roubado o rebanho de Apollo, Hermes passou a ser adorado também como o deus dos ladrões e tornou-se símbolo de todo movimento ardil e astucioso. Adquirindo uma personalidade trickster, que geralmente é representado por um personagem astúcioso e inteligente, um grande inventor e estrategista, mestre da trapaça e da arte. Geralmente, este personagem funciona como intermediário entre deuses (ou heróis) e homens

Tipicamente o trickster  possui a função de quebrar regras, transpor limites e criar confusões. E desta maneira, Hermes foi o trapaceiro que enganou Apollo, roubou seu rebanho e depois se cobriu em mantos e se apresentou a Zeus como um bebê inocente.
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Esse deus, que se aproxima tanto das características de um simples mortal, logo passou a ser um deus adorado pelos homens, muito próximo a eles e por isso possui o epíteto de Philanthropos – amigo dos homens. O especialista em Grécia Antiga, Jean Pierre Vernant diz que, “ao contrário dos deuses longínquos, que residem em um além, Hermes é um deus próximo, que freqüenta esse mundo. Vivendo em meio aos mortais, em familiaridade com eles”
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Sabendo disso, Zeus, no canto XXIV da Iliada, de Homero, recorre a Hermes para ajudar Príamo, rei de Tróia a recuperar o cadáver de seu filho Heitor, capturado e morto por Aquiles: “Hermes, já que teu mister preferido é o de ser companheiro de um  homem e com ele conversar a vontade, vai e conduz Príamo aos côncavos navios dos aqueus”

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Essa proximidade com os mortais levou alguns estudiosos a crerem que Hermes era um dáimon,ou seja, uma forma genérica de um deus que se transformou em deus na religião grega. Os dáimones eram criaturas da natureza, criadas por Zeus para auxiliar os homens.  Eles representavam as características dos homens, como a morte, velhice, sono, amor etc. Estas criaturas possuíam asas, que permitiam que vagassem pela terra ajudando os seres humanos, eles não eram vistos, mas eram sentidos. Hermes, mesmo sendo um deus olímpico, possui características de um dáimon como, por exemplo, seu poder de voar. Acredita-se que em religiões mais antigas, Hermes possuía asas que, posteriormente, foram transformadas em um artefato externo ao seu corpo e por isso, ele sempre é retratado com suas sandálias aladas e muitas vezes, com asas.

Hermes, o menino prodígio, arteiro e gentil é tão amado, que permanece até a hoje no nosso imaginário. Sua importância é tamanha que atualmente é emblemático dos mitos e lendas da Grécia Antiga e sua imagem estampa as capas dos livros da maioria escritores sobre o assunto.


Assim pois, salve, salve, rebento de Zeus e de Maia, Certamente de ti noutro canto haverei de lembrar”(Homero, 2003)

Hermes na atualidade


Na antropologia, Hermes tem sido de utilidade na compreensão da figura do trickster, presente em várias culturas aborígenes antigas e modernas.[6] 

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Na psicoterapia, desde o trabalho de Carl Jung com os arquétipos, Hermes se tornou uma imagem tutelar do processo de individuação e da cura psíquica, sendo considerado um princípio capaz de interligar e relacionar aspectos discordantes da psique e levá-los a uma integração saudável e funcional. 
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Imagem relacionadaSua própria associação com atividades usualmente chamadas de indignas, como o furto e o engano, o habilita para penetrar em constelações psíquicas cuja expressão exterior é condenada socialmente, e compreendê-las na perspectiva da individualidade e humanidade do paciente. 

No mito Hermes muitas vezes é chamado de "o deus mais amigo dos mortais", e para ele "nenhuma estranheza era estranha". 

Tendo sido chamado de psicagogo ou psiocopompo, condutor ou guia das almas, e pedagogo, guia dos jovens, é um símbolo também do próprio psicoterapeuta, em seu papel de orientador sensível, dinâmico e adaptável do processo de análise e cura, e um protótipo de todos os que ensinam e iniciam.[135][136] 
Caixas de coleta de correspondência dos Correios gregos 
com o perfil estilizado de Hermes. Em Atenas. 
No terreno dos estudos clássicos Hermes continua uma figura de grande interesse para as disciplinas da iconografia, da arqueologia, da história da cultura, da arte, da religião e da sociedade, e várias outras. Desde o século XIX o Corpus Hermeticum em particular vem recebendo nova e intensa atenção dos eruditos, em associação com os avanços dos estudos sobre a Idade Média e o oriente. Alguns textos inéditos têm sido redescobertos a partir desses esforços, iluminado a irradiação do Hermetismo para regiões antes insuspeitadas, como a Pérsia, a Arábia e outras mais, bem como o debate resultante tem apresentado aspectos novos e instigantes sobre conceitos consagrados.[138][139]



Hermes e suas Coisas divina



Hermes é um deus que possui muitos elementos que representam sua força e poder. Esses elementos estão com ele em todos os momentos e são retratados em todas as pinturas e afrescos. Seus acessórios são partes fundamentais que se fundem aos seus significados, tornando-se extensões de seu corpo divino.


Um desses elementos são as sandálias aladas, que simbolizam, não somente seu poder de voar, mas seu poder de voar em qualquer lugar. Alem de torná-lo rápido como o vento, como várias vezes é citado pelo grande poeta Homero: “Sem demora, calçou as belas sandálias, imortais, de ouro, que o conduzem sobre o mar ou sobre a ilimitada terra, veloz como o sopro do vento” (Homero. A Ilíada, Pg. 442). As sandálias de Hermes são símbolos de elevação mística e configuram o domínio dos três níveis, Hades, terra e Olimpo.


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Além das sandálias, Hermes possui um chapéu, que, assim como a coroa, é um sinal de autoridade em muitas culturas. Segundo Junito Brandão, professor e especialista em mitologia grega, em muitos casos o chapéu, substituindo os cabelos, tem função de receptor de influencias celestes. Mas, para nós, a representação mais significativa do chapéu de Hermes, é a de símbolo da identidade. 

O chapéu determina a origem da pessoa que o usa e seu nível de poder. Nas sociedades atuais esse costume persiste, tornando possível identificar autoridades como bispos, militares e até mendigos com seus bonés surrados de campanha eleitoral. Na iconografia de Hermes, temos sua representação com um chapéu de formato especial, o πέτασος (pétasos), uma espécie de chapéu muito utilizada por pastores, que assim como Hermes eram nômades, não possuíam terra fixa. Assim é Hermes, o detentor das passagens dos três reinos.

Resultado de imagemOutro símbolo que representa Hermes é o caduceu (κηρύκειον),que significa “bastão de arauto” e é um símbolo muito antigo, que possui inúmeras interpretações. O caduceu, principal signo de Hermes, é um bastão com duas serpentes enroladas em sentido contrário em sua ponta, formando o famoso símbolo do infinito, proposto por John Wallis. 
As serpentes representam o equilíbrio harmônico da vida que nasce da morte, já que a serpente é uma representação ctonica e possui aspecto duplo, o dia e noite, direita e esquerda, a vida e a morte. No mito do caduceu, as duas serpentes que estavam em guerra entre si, são separadas por Hermes e colocadas no topo do bastão, criando um equilíbrio entre as tendências contrárias do mundo e simbolizando a paz entre reinos. Este objeto representa o equilíbrio e a ascensão. As serpentes significam que as forças precisam ser equilibradas, independentes e se completarem. O caduceu de Hermes é 
muitas vezes confundido com o símbolo da medicina.


Imagem relacionadaO caduceu representa também os dois sentidos, ascendência e descendência, de Hermes, na sua função de Psychopómpos(condutor das almas). Como afirma Junito, no seu livro “Mitologia Grega Vol. 2”: “Sendo Hermes o mensageiro dos deuses e o guia dos seres na sua transmutação, estas duas funções estão bem marcadas pelos dois sentidos ascendente e descendente das correntes representadas pelas duas serpentes”.


Desta maneira é possível perceber a importância destes elementos para a construção mítica de Hermes. Na verdade está não é uma particularidade deste deus, todas as divindades, não só as gregas, tendem a possuir um símbolo, um objeto que as represente. É super importante ficar atento à esses objetos, pois eles dirão muito da personalidade e história do deus.
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Hermes e seus muitos atributos



Seu culto estava estabelecido na Grécia desde uma época bastante remota, provavelmente fazendo dele um deus da natureza, dos agricultores e dos pastores. É possível também que tenha sido desde o início uma divindade com atributos xamânicos, ligados à divinação, à expiação, à magia, aos sacrifícios, à iniciação e ao contato com outros planos de existência, num papel de mediador entre os mundos visível e invisível. 

Seja como for, tornou-se um dos deuses mais presentes em toda a mitologia grega, e dificilmente algum dos mitos principais não conta com a sua participação, assumindo uma grande quantidade de epítetos, formas e atributos.
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Entre as funções mais comumente ligadas a ele na literatura grega estão as de ser:

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O mensageiro dos deuses, e o deus das habilidades da linguagem, do discurso eloquente e persuasivo, das metáforas, da prudência e da circunspecção, também das intrigas e razões veladas, da fraude e do perjúrio, da sagacidade e da ambiguidade, por isso era patrono dos oradores, dos arautos, dos embaixadores e diplomatas, dos mensageiros e dos ladrões. Como inventor, se diz que havia inventado o fogo, a lira, a sírinx, o alfabeto, os números, a astronomia, uma forma especial de música, as artes da luta, da ginástica e do cultivo da oliveira; as medidas, os pesos e várias outras coisas. 

Pela sua constante mobilidade e outras qualidades intelectuais e relacionais, foi considerado o deus do comércio e do intercâmbio social, da riqueza advinda dos negócios, especialmente do enriquecimento súbito ou inesperado, das viagens, das estradas e encruzilhadas, das fronteiras e das condições limítrofes ou transitórias, da mudanças, dos umbrais, dos acordos e contratos, da amizade, da hospitalidade, do intercurso sexual; era o deus do jogo de dados, dos sorteios, da boa sorte; dos sacrifícios e dos animais sacrificiais, dos rebanhos e pastores, da fertilidade da terra e do gado. 
mitologia-grega-hermes-curiosidades
Para saber ainda mais acesse:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Hermes

Seu ministério a Zeus não se resumia à condição de mensageiro, mas fora incumbido ainda de servir a sua taça, por isso era o deus dos banquetes, e de conduzir a sua carruagem. Também era quem levava as almas dos mortos para o Hades, e quem dirigia os sonhos enviados aos mortais por Zeus. É apresentado inúmeras vezes nú ou semi nú.

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'MEMENTO MORI'💀



Daniel Bastos

Referências: 

- BRANDÃO, Junito. Mitologia Grega vol II. 18º Ed, Petrópolis: Ed. Vozes, 2009.
- HOMERO. Hinos Homéricos.  tradução: Jair Gramacho, Brasília: Ed. UNB, 2003.
- ________. Ilíada - em forma de narrativa – Rio de Janeiro: Ediouro
- VERNANT, Jean-Pierre. Mito e pensamento entre os gregos: estudos de psicologia histórica – Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 1990. 
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Hermes

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