segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Fenomenologia da Religião

Imagem relacionada
         

A expressão fenomenologia da religião foi criada pelo historiador das religiões Pierre Daniel Chantepie de La Saussaye. O significado atribuído por ele, entretanto, não era o de um novo método, mas apenas uma alternativa terminológica para religiões comparadas.
            Foi apenas com Gerardus van der Leeuw, em sua Fenomenologia da Religião, que a expressão adquiriu sua consistência própria. Leeuw, ligado à escola fenomenológica de Husserl, desejando chegar à essência da religião, ou, em outras palavras, a essência da experiência do encontro com o sagrado, propôs um método não só de descrição, mas de compreensão da experiência religiosa a partir dos fenômenos.
            A fenomenologia da religião, apesar de se utilizar de princípios metodológicos das mais diversas ciências, como a antropologia, a psicologia ou a história, diferencia-se por buscar compreender o significado da experiência religiosa para o próprio homem religioso. Segundo Croatto:

“Aplicada à(s) religião(ões), a fenomenologia não estuda os fatos religiosos em si mesmos (o que é tarefa da história das religiões), mas sua intencionalidade (seu eidos) ou essência. A pergunta do historiador é sobre quais são os testemunhos do ser humano religioso, a pergunta do fenomenólogo é sobre o que significam. Não o que significam para o estudioso, mas para o homo religiosus, que vive a experiência do sagrado e a manifesta nesses testemunhos ou ‘fenômenos’” (CROATTO, 2001, p. 25)

            Para se chegar a essa visão eidética do fenômeno, ou seja, a sua essência, é necessário primeiramente a epoché, a suspensão do juízo. Diferentemente do psicólogo clássico, que tende a reduzir a experiência religiosa a resultados da psiqué ou do sociólogo, que tem como pressuposto que a experiência religiosa é fruto do viver social, o grande desafio do fenomenólogo será tentar não pressupor nada. Entretanto, no meio científico atualmente, não mais se acredita na possibilidade de uma epoché total, mas em algo que seja o menos parcial possível.
            Além dos conceitos husserlianos de visão eidética e epoché, a fenomenologia da religião contou também com a contribuição de diversos outros autores. Para Rudolf Otto, por exemplo, a religião seria algo absolutamente irracional. O sagrado constituir-se-ia em uma realidade última e objetiva que dá-se a conhecer, estando fora de qualquer forma de raciocínio, sendo totalmente o outro. Segundo Mendonça:

“Toda afirmação de que Deus é o objeto da experiência religiosa tem de levar em conta que o conceito Deus é muito mais amplo do que o abarcado pela experiência. A experiência religiosa refere-se a ‘algo’ que diz pouco de si mesmo. Toda relação do homem com esse ‘algo’ é algo distinto (outro). Então, o objeto da religião é o ‘outro’, o ‘estranho’. O sentimento em relação a esse ‘algo’, ‘outro’, é primariamente de assombro. O princípio é o mesmo que está na origem da filosofia - o assombro dos gregos diante do mundo - e da teologia - o anseio por se aproximar e conhecer o absolutamente outro. Mas, todo conhecimento de Deus, o que dizemos dele, é impróprio e limitado”.

               Para van der Leeuw, para quem o poder é o objeto da religião, a fenomenologia da experiência religiosa busca captar e descrever o homem em seu comportamento relativo ao poder. O conceito de poder seria próximo da noção de algo difuso e indefinível, que pode estar no pensamento ou em coisas. A religião, dessa forma, consistiria em tomar posse desse poder (Deus) em benefício próprio.
            Já Mircea Eliade entendeu que, não havendo fenômenos religiosos puros, seria fundamental procurar isolar esses fenômenos da melhor forma possível. O primeiro passo seria a distinção entre sagrado e profano. Segundo seu conceito de hierofania, o sagrado se apresenta na consciência do homem como fenômeno. Elas são formas de experiência do sagrado por parte do homem que variam externamente de acordo com o tempo e com o espaço, mas internamente se universalizam, constituindo uma união inseparável entre consciência e fenômeno, a própria experiência religiosa.
            Assim, apesar das diferentes abordagens e enfoques, pode-se afirmar, sinteticamente, que a fenomenologia da religião é a ciência que tem como objetivo o conhecimento da essência da experiência religiosa a partir da investigação dos fenômenos.


         Por 


desejo felicidadeS🙈🙉🙊
'MEMENTO MORI'💀


Daniel Bastos


3 – Referências bibliográficas:

CROATTO, J. S. As Linguagens da Experiência Religiosa - uma introdução à fenomenologia da religiãoTrad. de C. M. V. Gutiérrez. São Paulo: Paulinas, 2001. 513 p.
- MENDONÇA, Antônio Gouvea. Fenomenologia da experiência religiosa. In: Numen: revista de estudos e pesquisa da religião. Juiz de Fora, v, 2, n, 2, p. 65-89
SILVA, Cácio. Fenomenologia da Religião. Disponível em <http://instituto.antropos.com.br/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=527> Acesso em 25 setembro 2011.
                                   

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Você pode se interessar também: