A realização da Obra é muitas vezes representada pelo desabrochar de uma flor, que brota no vaso alquímico espalhando o seu “velho perfume” no ar.
Flor também era o nome dado à substância da transformação, daí a matéria-prima ser chamada de “flor de todos os metais”, da mesma forma que a Pedra é a “flor da Obra”, que assume a coloração dos campos de papoula quando o trabalho é concluído.
Atalanta Fugiens-1618, Emblem XXVII |
"Aquele que tenta entrar no Jardim das Rosas dos Filósofos sem a chave é como um homem querendo andar sem os pés.
O jardim de rosas da Sabedoria tem uma abundância de várias flores, mas o portão está sempre fechado com parafusos fortes;
Apenas uma coisa de pouco valor é encontrada no mundo
que é a chave para isso.
Sem essa chave você andará como alguém sem pernas.
Você vai tentar em vão subir até o topo íngreme do Parnaso,
Você, que dificilmente tem força suficiente para permanecer em pé em terreno plano."
(Atalanta Fugiens-1618, Emblem XXVII)
“Do alto frutuosas,
Rútilas rosas!
Voantes, flutuantes,
vivificantes”
(Fausto II, v. 11699-11702).
A rosa, representada muitas vezes com sete pétalas, numa referência aos sete planetas, ou aos sete metais, tem a forma de uma mandala, símbolo da totalidade.
O seu nome está relacionado a rocio (do latim ros), o orvalho da manhã.
O desabrochar da flor equivale, portanto, à colheita da rosa, ou coleta do orvalho, chamado de “flor do céu”, substância essa de fundamental importância para a opus alquímica.
Um ponto importante a ser destacado é a sua cor vermelha, que simboliza não só o enrubescimento característico do final da Obra, mas também o amor. Por isso, diz-se que os tratados de Alquimia não passam de “romances da rosa”.
Na primeira imagem vemos o vaso com as rosas vermelha e branca na mesa do alquimista. Ao lado, imagem de um vaso com rosas vermelhas e lírios brancos, também símbolos alquímicos.
A pequena obra está relacionada à transformação pessoal onde o adepto se liberta das amarras internas que atrapalham sua percepção da realidade. Assim, a grande obra é quando o adepto, ciente de sua própria realidade, dedica sua vida a trilhar seu próprio caminho, cumprindo seu destino traçado, e se transformando em obreiro de Deus, à serviço de Deus, na grande obra universal. Conseqüentemente, a rosa azul está ligada à obra impossível."
É o que mostra o misterioso Mutus Liber[3](do latim: Livro Mudo), cujo frontispício traz dois ramos de rosas entrelaçados, e que emolduram a imagem de uma escada que une o Céu e a Terra, por onde sobem e descem os anjos.
ilustração do "Mutus Liber", O Livro Mudo da Alquimia-1677 |
figura 1 |
Já na figura 2 temos uma ilustração onde aparece a rosa vermelha no processo alquímico, ela é de 1578, da versão do Rosarium Philosophorum do Jaroš Griemiller , mantida na Biblioteca Nacional de Praga , na República Tcheca.
figura 2 |
Tema semelhante se repete na última das doze chaves de Basilio Valentin, na qual o fim dos trabalhos é sinalizado por um vaso com flores sobre a mesa.
Mais acima já usamos essa imagem para ilustrar as rosas vermelha e branca. Aqui, a mesma ilustração sem colorir.
Segundo o autor, essa é a “roseira selvagem escolhida pelos alquimistas para representar a digna recompensa que esperam de Deus e da Natureza e que garante ao adepto a riqueza e a saúde” (VALENTIN, 1976, p. 131).
Nesse sentido, o remédio universal, que cura as enfermidades dos metais, é chamado de flor de antimônio, e sua obtenção é simbolizada pelo desabrochar de uma flor.
A canção "Take up the stethoscope and walk"(Pegue o estetoscópio e ande) do Pink Floyd, faz alusões ao assunto:
"Doutor, doutor!
Estou de cama
Cabeça doendo
Ouro é chumbo
Engasgado com pão
Subnutrido
Ouro é chumbo
Jesus sangrou
A dor é vermelha"
O surgimento de flores equivale ainda ao nascer do sol, que os alquimistas chamam de flor de fogo.
Marcelo Del Debbio diz que "assim como em um jardim, em nossa vida devemos cuidar sempre para arrancar as ervas-daninhas que insistem em tentar crescer agregadas ao que você deseja plantar. Quanto maior e mais florido fica o seu jardim, mais parasitas, pulgões e cupins tentam se aproximar, seja para parasitar o caule das flores, ou beneficiar-se do solo que você está adubando e cuidando.
Deve-se podar as folhas podres, adubar as raízes e regar constantemente, seja com as águas das emoções puras, seja com as águas superiores da fé, e pelos frutos conhecerás a árvore.
O trabalho no Jardim engloba os 4 Elementos: deve-se cuidar das raízes, de adubar a terra e de retirar as pedras do caminho; deve-se molhar as plantas com as águas da emoção, sem nenhum tipo de veneno ou produto que macule a nutrição das flores; deve-se deixar o ambiente sempre iluminado com bastante luz; as rosas nunca florescem na escuridão. E finalmente, deve-se deixar o ambiente arejado e sempre aberto, para que os pássaros e as abelhas possam levar as sementes para outros lugares.
Uma vez estabelecido o jardim, as abelhas e os pássaros se encarregarão de passar este conhecimento para outros jardins mas, assim como o professor pode apenas ensinar a parte teórica, cabe a cada jardineiro cuidar para que as sementes e mudas trazidas se transformem em novas árvores e novas roseiras."
[1] O Rosarium Philosophorum (do latim: Rosário dos Filósofos) é um tratado alquímico. O termo rosário no título não está relacionado com as contas usadas pelos fiéis nas rezas católicas; refere-se a um "jardim de rosas ", metafórico de uma antologia ou coleção de ditos sábios. Foi impresso pela primeira vez em Frankfurt, em 1550, como a segunda parte de um compêndio alquímico chamado "De Alchimia opuscula complum veterum philosophorum" (do latim: A alquimia das obras completas de filósofos antigos). Inclui uma série de 20 xilogravuras.
[2] Atalanta Fugiens ou a Fuga de Atalanta é um livro emblemático escrito pelo médico, músico, alquimista alemão e conselheiro do imperador Rodolfo II, Michael Maier (1568-1622), composto por 50 discursos filosóficos, 50 gravuras de Matthäus Merian e 50 cânones musicais. O trabalho foi publicado por Theodor Johann de Bry em Oppenheim, em 1617.
[3] O Livro Mudo da Alquimia é reconhecidamente uma das mais importantes obras da tradição alquímica, e uma das mais relevantes e belas produções da tradição pictórica do hermetismo medievo. Composto de 15 pranchas, descreve os passo para a realização da Grande Obra alquímica apenas por imagens. Mutus Liber, como o nome diz, é um livro mudo, sem palavras. Tendo seu autor permanecido anônimo. Muitos acreditam que o Mutus Liber foi criado por um certo Altus. A primeira edição do Mutus Liber data de 1677, publicada por Pierre Savouret em La Rochelle. Editado originalmente por Eugène Léon Canseliet (1899 – 1982), foi Canseliet que encontrou uma cópia do livro, na cidade de La Rochelle e mandou fotografar as imagens impressas na obra com o objetivo de reproduzi-las com mais fidelidade. Portanto a reedição das pranchas originais do Mutus Liber aconteceu somente em 1968, trezentos e dez anos depois do seu lançamento oficial. É possivelmente o único livro conhecido, desde o apogeu da civilização egípcia, que se propõe a condensar a sabedoria hermética, como prática empírica e caminho espiritual, sem o uso da palavra. A referência da obra em português é: Carvalho, J. J.. Mutus Liber, o livro mudo alquímico. São Paulo, Attar, 1998.
- Conheça mais sobre o Mutus Liber aqui.
- Veja todas as imagens do livro coloridas aqui
http://psicologiajunguiana.psc.br/trechos-do-livro/take-up-thy-stesthocope-and-walk
http://piroalquimista.blogspot.com/2014/12/a-rosa-alquimica.html
http://alchemical-weddings.com/alchemical-weddings/the-rose-garden
http://institutoeranos.com.br/site/mutus-liber/
https://en.wikipedia.org/wiki/Mutus_Liber
https://translate.google.com.br/translate?hl=pt-BR&sl=en&u=http://www.alchemywebsite.com/virtual_museum/rosarium_philosophorum_room.html&prev=search
https://translate.google.com.br/translate?hl=pt-BR&sl=en&u=http://www.levity.com/alchemy/rosary1.html&prev=search
https://translate.google.com.br/translate?hl=pt-BR&sl=en&u=https://en.wikipedia.org/wiki/Rosary_of_the_Philosophers&prev=search
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