sábado, 13 de outubro de 2018

O caminho de Sidarta, a sabedoria milenar do Budismo


Tudo começa com um jovem chamado Sidarta. Ele foi um príncipe indiano, filho do Rei Suddhodana e da Rainha Maya, que viveu há aproximadamente três mil anos, na região de Magadha.
Na ocasião de seu nascimento, um famoso profeta advertiu seu pai, rei do clã dos Shakyas, de que, caso fosse permitido a ele testemunhar as carências e o sofrimento do mundo, seu filho enveredaria por um caminho de buscas e provações até se tornar um líder espiritual. Para evitar esse fim, o Rei Suddhodana tentou proteger o filho e criá-lo cercado apenas de beleza e riqueza.
Mas o príncipe sentia um vazio existencial e um desejo de conhecer o mundo além dos muros do palácio. E foi isso que aconteceu. Aos 29 anos, o príncipe Sidartha Gautama deixa o palácio e, no caminho para o povoado, passa a ter a vivência de situações até então desconhecidas para ele.

Primeiro observa um lavrador arando a terra, sob o sol. E, da terra, surge uma minhoca se retorcendo, e que logo é engolida por um pássaro. Foi um choque se dar conta de que para que um viva, outro ser vivo deva morrer.

Mais adiante, deparou-se com um mendigo, com um idoso e, por fim, com um cortejo para o sepultamento de uma pessoa morta. 

Sidartha Gautama, muito chocado, resolve não voltar mais para o palácio, e sai em busca de explicações. Depois dessas impressões, questionou-se sobre se haveria algo que transcendesse tais sofrimentos.


Tomado por um sentimento de compaixão pela humanidade, Sidarta abandonou a vida de luxo no castelo e passou a buscar respostas para suas dúvidas através de práticas ascéticas. Obrigou-se a comer menos e meditar muito. Esperava desta forma eliminar o sofrimento. Mas por experiência própria, concluiu que a autoflagelação confunde a mente, ao invés de favorecê-la.
Ele intuiu, então, que o caminho para a libertação não estava nos excessos de luxo nem tampouco do ascetismo, mas sim em um ponto de equilíbrio entre eles. Vem daí a expressão “caminho do meio”, um dos pilares do Budismo.
Então, aos 35 anos, após sete dias e sete noites meditando sob uma figueira, ele percebeu o fluxo de suas vidas passadas e entendeu que o apego era fonte de seu sofrimento. Em níveis cada vez mais sutis sua mente se iluminou, plena e completamente. Não sendo mais apenas um príncipe, era agora um Buda, “O Desperto”.
Seu primeiro ensinamento após a iluminação é conhecido como as Quatro Nobres Verdades, que servem de diretrizes para todas as vertentes budistas.

O caminho óctuplo


I. Compreensão correta
É preciso dominar as quatro verdades. É compreender a realidade de cada coisa e sua relação com a totalidade, que tudo se transforma seguindo uma harmonia universal. 

II. Pensamento correto
Evitar que pensamentos negativos, mesquinhos e egoístas, bem como o mal e os sentimentos ruins, ocupem a sua mente. 

III. Palavra correta
Envolve dizer a verdade. Não exteriorizar o mal por meio da fala. Evitar maledicências, fofocas. Valorizar o tempo e o bem, por meio de falas construtivas e edificantes.

IV. Ação correta
Em decorrência do que pensamos e falamos, surge a ação. Logicamente, se pensarmos o bem e falarmos o bem, agiremos de forma correta. Agir de modo ético e moral, evitando-se o mal.

V. Vida correta
Vivermos de forma honesta, íntegra, evitando causar danos ou sofrimento a outros seres vivos. Escolher um trabalho útil, não violento e ético.

VI. Esforço correto
É se valer de suas forças para atingir um objetivo, de forma alegre e serena. Não considerando um fardo insuportável o trabalho. É sentir prazer naquilo que se faz, pois todas as atividades, todas as funções, são muito importantes por fazerem parte de um sistema maior. Cultivar o autoconhecimento e a autodisciplina.

VII. Atenção correta
É não se deixar enredar pelas ilusões criadas pelo mundo e pelo nosso ego. Banir vícios, preguiça, dúvidas e preocupações.

VIII. Concentração Correta
É estar em harmonia, com atenção e concentração voltadas para o equilíbrio. O budismo evita os extremos, trilha o caminho do meio. Por exemplo, sentir fome é ruim, entretanto, comer em excesso, também é ruim. A pobreza é ruim, mas a riqueza excessiva enquanto existe miséria no entorno, também é ruim.


Buda ensina que não inventou a verdade, e sim despertou para ela. Sendo assim, qualquer pessoa poderá também atingir o mesmo estado de iluminação e sabedoria que ele alcançou. Ser budista não significa crer e adorar sua imagem, mas sim dedicar-se a verdade que ele descobriu e que constitui as Leis da Natureza.
Por ser transitório, não é correto ter sua imagem como alvo de veneração. Justamente por isso, nos templos do Budismo Primordial não existem estátuas de Buda, ao contrário de tantos outros templos budistas. O Buda Histórico é considerado um modelo a ser seguido pelos budistas, mas entendem que não podem venerar algo temporário, sujeito a mutabilidade. Pois o próprio Buda baniu tal forma de devoção.
O que é "Buda"?
A palavra Buda significa "desperto", e representa um ser que acordou para a verdadeira natureza das coisas. Num nível externo, histórico, quando dizemos "Buda" nos referimos ao príncipe Sidarta Gautama, que como falamos viveu cerca de 2600 anos atrás. Quando príncipe Sidarta se iluminou ele passou a ser chamado de "Buda”. Num nível interno o Buda representa nosso próprio potencial como seres humanos, e o potencial de cada outro ser. Isto é, quando todas as qualidades estiverem desenvolvidas, e todos os obstáculos dissolvidos, o que se apresenta é um Buda.
O budismo é uma visão de mundo e uma maneira de se posicionar no mundo. Isso é possível seguindo-se certos princípios, como a ideia de desapego
Primeiro, desapego do ego, da vaidade, da soberba, da arrogância, pois tudo isso não passa de ilusões criadas pelo nosso ego. A ideia de desapego é tão central no budismo, que até o próprio budismo é objeto de desapego. Se a pessoa não precisa mais do budismo, ela pode simplesmente deixá-lo. 
Segundo, é entendendo a noção de impermanência. A vida é um fluxo contínuo de mudanças incessantes. Tudo muda o tempo todo. E, aceitar isso é evitar o sofrimento.


As “Três Joias” ou "Tríplice Tesouro"
É como são conhecidas as bases das tradições e práticas budistas 

1) Buda (perfeição da mente da iluminação)
É se espelhar no exemplo de Buda, em seu esforço para atingir um objetivo.

2) Dharma (ensinamentos e métodos)
É a lei. O conjunto de regras que devem ser observadas para se atingir o objetivo.

3) Sangha (comunidade de praticantes comprometidos do Budha-dharma)
É a comunidade de pessoas que seguem as orientações de Buda, suas leis, prestam apoio mútuo, encorajamento e amizade espiritual.
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Ramificações ou tipos de budismo
É estimado que atualmente existam cerca de 500 milhões de seguidores no mundo, sendo considerada a quarta maior religião em número de adeptos. O maior número encontra-se no oriente em países como Japão, China, Tibete e Tailândia. No Brasil, segundo o censo de 2010, residem aproximadamente 245 mil budistas.
Podemos encontrar diferentes escolas, ramificações ou tipos de budismo. Alguns lhe atribuem duas ramificações principais: Therevada (ou Escola dos Anciãos) e Mahayana (Bom Caminho), embora estas se diversifiquem e não exista um consenso. Há também o vajrayāna e hinayanna. 
Textos Sagrados

Sidarta não deixou nada escrito. Mas existe o cânone Páli, a “Tripitaka”, escrito entre – 500 a.C. e o início da era cristã. Foi escrita pelos discípulos de Buda. As “três cestas” (Tripitaka, em páli) que o livro contém são o “Vinaya Pitaka”, com regras para orientar a conduta diária dos seguidores, “Sutta Pitaka”, uma coletânea de discursos atribuídos a Buda e seus discípulos, e o “Abhidhamma Pitaka”, uma investigação filosófica sobre a natureza da mente e da matéria humana.
Não existem, contudo, no budismo um livro sagrado como a Bíblia ou o Alcorão, que seja igual para todos; para além do Cânone Pali, existem outros cânones budistas, como o chinês e o tibetano. 


Buddha-Dharma
É o sistema de análise ensinada pelo Buda (registrado no Cânone Páli) a respeito das causas do sofrimento e do curso de ações necessárias para desfazer essas causas. O Cânone Pali é considerado pela tradição Theravada como contendo os textos que se aproximam mais dos ensinamentos do Buda. 
A Flor de Lótus

O lótus está enraizado na lama profunda e seu caule cresce através da água turva. Mas a flor se eleva acima da sujeira e se abre ao sol, linda e perfumada. No budismo, o lótus representa a verdadeira natureza dos seres, que se levantam através do Samsara para a beleza e clareza da iluminação.
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Nirvana
Significa "sopro", "soprar", ou até "ser assoprado"). A palavra significa literalmente "apagado" (como em uma vela) e refere-se, no contexto budista, a imperturbável serenidade da mente após o desejo, a aversão e a desilusão terem sido finalmente extintos. 

Sidarta, descreveu o Nirvana como um estado de calma, paz, pureza de pensamentos, libertação, transgressão física e de pensamentos, a elevação espiritual, e o acordar à realidade. É a meta do budismo. É o apagar do fogo das paixões e a extinção do ego.
1.      É não necessitar mais renascer.
2.     É o que todo budista procura por toda vida, a paz absoluta.
3.     É o que faz do homem comum um Buda.
4.     É a iluminação.
5.     É a extrema paz.

Cinco Diani Budas - Lama Padma Samten (5 sabedorias)


Sabedoria da igualdade. Buda Ratnasambhava. Cor amarela. Generosidade.

 “Quando fazemos algo de bom para os outros, não só eles, mas nós também nos alegramos.. Ficamos felizes quando ajudamos alguém. O que eu faço para o outro é igual para mim. É inseparável. Se ele está feliz eu estarei feliz.”

Sabedoria do espelho. Buda Akshobhya. Cor azul. Acolhimento.

 “capacidade de entender os outros no mundo deles e não a partir do nosso. Nós deveríamos pensar que o outro geralmente está certo dentro do mundo dele. Se nós tivermos a capacidade de falar dentro do mundo das pessoas, nós podemos ajudá-las a caminhar melhor. Quando nossa linguagem não funciona, é porque nós não conseguimos falar dentro do mundo dos outros.”

Sabedoria discriminativa. Buda Amitabha. Cor vermelha. Investigação.

 “Não há nada que hoje nos traz felicidade, que amanhã não poderá trazer sofrimento. O que ganhamos hoje, podemos eventualmente perder amanhã. É também a compreensão da impermanência, tudo tem um ciclo de início e fim, tudo é mutável e nada permanece como está.”

Sabedoria da causalidade. Buda Amogasiddhi. Cor verde. Causa e efeito.

 “Para cada ação, existe uma reação. Se agirmos de modo positivo, de modo geral, receberemos coisas boas de volta. Se agirmos de modo negativo, de modo geral, receberemos coisas negativas. Ao agirmos de maneira negativa, podemos criar problemas para nós de três maneiras com o corpo, fala e mente. Esta também pode ser entendida como a sabedoria da transmutação. O que vier de negativo para nós, podemos transformar e devolver a ação de modo positivo.”

Sabedoria de dharmata. Buda Vairochana. Cor branca. Transformação.

 “Esta sabedoria significa a nossa capacidade de compreensão da natureza livre da mente. Estamos além de vida e morte. Não somos as identidades que criamos todos os dias, mas sim a liberdade que gera essas identidades.”

Como observado, cada sabedoria possui um Buda e uma cor correspondente.

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Respostas a algumas das dúvidas mais freqüentes sobre o Budismo
Buda era gordo, quem é aquele Buda barrigudinho?
Muitas representações artísticas representam um Buda gordo, particularmente as chinesas. Há algumas explicações para isto. Em alguns locais, fala-se de um sincretismo com determinada deidade taoísta da prosperidade e mesmo a ideia de que a gordura do Buda representaria fartura espiritual.
Não consta que Sidarta fosse obeso em qualquer tempo de sua vida. Pelo contrário, ele chegou a ser bastante magro durante o período de ascetismo.
Quem pode ser considerado budista?
A aceitação das três jóias (tesouro triplo) é, em geral, o que caracteriza um budista.
Budismo, religião ou filosofia?
Todas as religiões são tidas como teístas, e o budismo, no que ele possui de mais profundo, não é teísta. Ficando assim fora da definição de religião. Ele também não seria uma religião porque não possui escritura revelada, ou um criador. 
Os Budistas Acreditam em Deus?       
O budismo é “não teísta”, ou seja, não foca em falar sobre deuses. A única questão na qual o Budismo é mais enfático é a inexistência de um Deus Criador, que fez o mundo e todas as coisas. Sendo assim, a resposta é não.
O Budismo acredita na reencarnação?
O Budismo não ensina a reencarnação, o Budismo acredita no renascimento.
Qual é a diferença entre reencarnação e renascimento?
A reencarnação é a idéia da existência de um espírito separado do corpo; com a morte do corpo esse mesmo espírito reassume uma outra forma material e segue evoluindo. O renascimento na concepção Budista não é a transmigração de um espírito, de uma identidade substancial, mas a continuidade de um processo, um fluxo do devir, no qual vidas sucessivas estão conectadas umas às outras através de causas e condições.


desejo felicidadeS🙈🙉🙊

'MEMENTO MORI'💀





Daniel Bastos
ReferÊncias:
MCDOWELL, Josh. Respostas convincentes. São Paulo: Editora Hagnos, 2006.

PERCHERON, M. - O Buda e o Budismo (Livraria Agir Editora, SP, 2ª ed., 1968).

SADDHATISSA, Ven. H. - O Caminho do Buda (Zahar Editores, RJ, 1977).

SILVA , G. da & R. Homenko - Budismo: Psicologia do Autoconhecimento (Editora Pensamento, SP, s.d.)

https://top10mais.org/top-10-maiores-religioes-do-mundo/

http://www.acessoaoinsight.net/arquivo_textos_theravada/abc_budismo.php#deus

http://budismo.com.br/introducao-ao-budismo/budismo-no-brasil/
http://okantiano.blogspot.com/2016/11/budismo-mente-quieta-espinha-ereta-e-o.html

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