quinta-feira, 18 de outubro de 2018

A missão do Tarô no século XXI, uma abordagem atual das misteriosas cartas centenárias.

Imagem relacionada
Cada vez mais muitas pessoas se mostram interessadas por Tarô. Alguns para saber o que é, vão procurar, dão um Google e…
Que loucura! Encontram serviços que mesclam Tarô, runas, búzios, simpatias e promessas de devolver o dinheiro em caso de erro (como assim erro? rsrs). Que tal entender melhor o tarô? Ta na hora de tirar aquela imagem da cigana com turbante que prevê o futuro da cabeça e perceber como o tarô é fascinante.

A idéia do Tarô como algo esotérico ainda é a mais comum, porém limitada.

Para entender o tarô você precisa conhecer um pouco a sua história, espero que esse texto possa mostrar a você o quanto essas cartas são fantásticas e também acabar com qualquer pré-conceito que você tenha formado (tem gente que só de saber que existe uma carta com o Diabo já pula fora). Comecei a me interessar pelo tarô quando percebi o quanto ele e seus símbolos tem significados profundos. E alguns em especial tem uma beleza artística arrebatadora.
Resultado de imagem para tarot illuminati cards
Justiça- Arcano XI no belíssimo tarô da Iluminação (Tarô Illuminati)
Para começar precisamos ir até o surgimento do baralho. A verdadeira origem do jogo de baralho, assim como a da maioria dos jogos de cartas hoje conhecidos (como o tarô), permanece um tanto quanto misteriosa, dizem, os historiadores, que as primeiras cartas surgiram no século X antes de Cristo, no Oriente Médio, outros pesquisadores preferem a versão de que a invenção, na verdade, ocorreu na China. 
Imagem relacionada
Cena do filme "Alice no país das maravilhas"
As cartas mais comuns, e para as quais existem jogos às centenas, são as que compõem um baralho de 52 cartas (ou baralho inglês), ao qual podem ser acrescentados uma ou duas cartas chamadas jokers ou, no Brasil, curingas, dividido em quatro naipes e numeradas, em cada naipe, de 2 a 10, Ás, Valete, Dama e Rei. E em 13 valores diferentes

Os naipes  são: espadas (), paus (), copas (e ouros (). Cada naipe possui 13 cartas, sendo elas um Ás (representado pela letra A); todos os números de 2 a 10; e três figuras: o Valete, marcado com a letra J (do inglês jack), a Dama, também chamada de Rainha, letra Q (de queen) e o Rei, letra K (de king).

Imagem relacionada
Os Trapaceiros (1594) - pintura do artista barroco italiano Michelangelo Merisi da Caravaggio. Baralho como tema. 
Acredita-se que as cartas de tarô surgiram entre os séculos XV e XVI e foram criadas para um jogo de mesmo nome, que era jogado pelos nobres e pelos senhores das casas mais tradicionais da Europa continental. 

A origem do tarô é lúdica/artística. Não oracular.  As cartas do tarô surgiram como expressão artística e também como distração em jogos de azar. A versão oracular, que se “joga para adivinhar” (como se diz por aí), surgiu aproximadamente 4 séculos depois do surgimento do baralho.  o Tarot obtém expressão nas mais diversas áreas, sendo um instrumento de estudo e uso variados.

Imagem relacionada
Cartas raríssimas originais do Tarô Visconti-Sforza, jogos de baralho pintados 
para as famílias Visconti e Sforza, governantes do Ducado de Milão entre 
1395 e 1499. As cartas possuem detalhes em ouro.

Independente da arte impressa nas cartas, são sempre 78 cartas, sendo 22 Arcanos Maiores e 56 Arcanos menores (esses são os mesmos do baralho que você conhece). A palavra Arcano significa "que ou o que é profundamente secreto, misterioso, enigmático", trazendo a idéia  de "mistérios ou segredos a serem desvendados" e foi incorporada pelos ocultistas do século XIX. 
A origem dos arcanos não fala de leitura ou adivinhação, tampouco de espiritualidade, mística, esoterismo e acesso a mensagens ocultas do destino.  Tarô era um baralho para se jogar mesmo e não para desvendar segredos ou revelar o futuro.
Imagem relacionada
Os 22 Arcanos Maiores no tradicional Tarô de Marselha
Os países que não conheceram o tarô como jogo, como é o caso da Inglaterra, da Espanha, dos EUA e até do Brasil, geralmente apenas conhecem esse baralho pelo lado místico que ele apresenta. Nos países que conheceram o jogo em si, falar em tarô é como falar em truco. Não tem significados ocultos.
Conta-se que, o tarô em si, por incrível que pareça, foi introduzido pelo pastor protestante Antoine Court de Gébelin(1728-1784), que publicou nove livros sobre o assunto, entre 1773 e 1782. Ele até fala a respeito da interpretação simbólica das imagens, mas não chega a falar sobre previsões do futuro. 
Imagem relacionada    Imagem relacionada

Ainda assim, foi graças às publicações de Gébelin que Jean-Baptiste Alliette (1738 - 1791), que mudou seu nome para Etteilla (Alliette ao contrário), passou a realizar previsões. Etteilla foi considerado o grande cartomante de sua época. 
Essas cartas surgiram numa época onde muitas pessoas não tinham acesso à alfabetização, portanto, a imagem deveria ser rica em significados. Sendo assim, é um instrumento para toda e qualquer pessoa acessar. Porém, trabalhar com o tarô envolve estudo e pesquisa constantes.
Um bom interprete consegue analisar uma única carta com riqueza de detalhes podendo te situar facilmente na questão ou mesmo dar informações importantes que te ajudem a entender muitas coisas. Isso tudo com uma carta.
Imagem relacionada
 O tarô não é vinculado a nenhuma religião. Contudo entre tantos baralhos, aparecem os da Fraternidade Branca, dos Orixás, do Xamanismo, dos Anjos, de Osho, etc. Todos com notas evidentes da religiosidade que representam. 
Imagem relacionada
Tarô com iconografia Cristã
Tem tarólogos que tem sua religião, tem tarólogos ateus, tem tarólogos “zen”, tem tarólogos terapeutas, tem tarólogo místico, enfim, de todo jeito. Essas pessoas podem ter espiritualidade, mas não por conta de jogarem o tarô, e sim porque além de jogar tarô se interessam e buscam uma trajetória espiritual ou um aprendizado dentro da espiritualidade. O "poder" das cartas não vem de uma força mística mas sim do poder contido em cada uma das imagens e seus símbolos.
Tarólogos não fazem adivinhação, o uso do tarô na atualidade tem sido empregado como método de aconselhamento, promovendo o autoconhecimento. O trabalho do tarólogo nada tem (e não precisa ter) de místico, mágico, ritualístico, oculto, esotérico, mediúnico, espiritualista.

O que acontece durante a leitura é uma conexão de informações que se dá através de análise e interpretação. A missão de quem faz a leitura é analisar o símbolo, interpretar a carta num jogo e dar ao consulente a prerrogativa de usar aquele conselho ou não. 
Carl Jung, renomado psicólogo do século XX, falou em Arquétipo (imagens arcaicas), imagens que estão dentro de nosso inconsciente e que podem ser ativadas por determinado símbolo, que revigora e traz à tona toda a carga emocional que a imagem possui em si e que nos toca profundamente. As cartas do Tarot podem ser vistas então como ilustrações sobre os anseios da alma humana.


Kelma Mazziero diz que "Nas últimas duas décadas o tarô cresceu muito no Brasil, tanto na teoria quanto na prática. Saímos da obscuridade para um movimento em direção à pesquisa e à atualização constante[...]." 
Assim ela traz a proposta do "tarô contemporâneo", que é apresentar o tarô usando uma abordagem atual.
         
Arcanos "O Mago" e "A Justiça" no  Mystical Manga Tarot. Contextualização!

Há hoje a importância de olhar para o tarô com visão atualizada. Mostrando que o tarô mesmo sendo algo relativamente antigo, felizmente carrega consigo a contemporaneidade, a mentalidade do tempo atual, se encaixando em nossa realidade para fazer sentido de fato. E isso é de suma importância. 
É fantástico ver dentro dessa contextualização para nossa realidade que o tarô alcançou até a importante bandeira da questão social. Como no caso do projeto "Ghetto Tarot" da fotógrafa Alice Smeets, que com a ajuda de um grupo de artistas haitianos chamado Atis Rezistans, recriaram no gueto do Haiti, com material encontrado localmente, cenas inspiradas nos desenhos das cartas. 
Resultado de imagem para ghetto tarot
O projeto de Alice visa ir além das fronteiras culturais do preconceito e da ignorância para alcançar uma transformação necessária da percepção do gueto, enquanto mostra o poder de nossos próprios pensamentos. A favela haitiana é apresentada sob outra luz e as imagens destacam a criatividade e a força de seus cidadãos: eles são o sol, a morte, mágicos, clamam por justiça, dependendo da sua interpretação.
A ideia romantizada de que o tarô adivinha futuro ou desvenda a sorte é limitada.  Em cada época a maneira de olhar o tarô teve seu brilho e seu preconceito. E sem a devida adequação, corre-se risco de continuar a se taxar o tarô em superstição,  misticismo e até ranço. 
Kelma Mazziero diz que "despir o tarô de superstição é urgente, sem isso a gente não sai da visão marginal e desinformada sobre o quanto uma análise simbólica pode ajudar qualquer pessoa num momento mais delicado da vida."

Tarólogo não é cartomante. O tarólogo lê o tarô, já a cartomante lê cartas diversas (baralho cigano e cartas de baralho).
Leitura de tarô é interpretar as cartas e seus símbolos, podendo esclarecer dúvidas, mostrando outro aspecto da sua realidade, apontando saídas ou detalhes importantes. Você pode entender melhor a si mesmo, seu momento profissional, finanças, um relacionamento. E outras inúmeras questões do dia a dia.
Imagem relacionada

Estamos no século 21. As mudanças em nossa sociedade são mais rápidas do que conseguimos dar conta de entender.

Desde sua descoberta há séculos atrás o tarô transcendeu os mais distintos momentos históricos, saindo da Europa para alcançar o mundo. Afinal, é de símbolo que estamos falando, e símbolos vivem dentro de nós, mesmo que não tenhamos consciência disso, até porque é o inconsciente que carrega a maior parte do que de fatos somos. E é por isso que no nosso século, podemos manter a importância da linguagem simbólica que tanto tem a nos ensinar.




desejo felicidadeS🙈🙉🙊

'MEMENTO MORI'💀



Daniel Bastos
RefÊncias:
ALVES, Lídia Maria. O Tarô, o Caminho da Autotransformação. Nova Era, 1995.

GAD, Irene. Tarô e Individuação. Mandarim, 1996.

GWAIN, Rose. Descobrindo seu interior através do Tarô. Cultrix, 1996.

MARTINS, Vera. Tarô de Marselha, espelho meu. Madras. 2000.


MONTANARO, Mário. Tarô, espelho da alma. Nova Fronteira, 1996.

NAIFF, Nei. Tarô, simbologia e ocultismo. Rio de janeiro: Nova Era, 2012. 

NICHOLS, Sallie. Jung e o Tarô. Cultrix, 1987. 

PRAMAD, Veet. Curso de Tarô e seu uso Terapêutico. Madras, 2003.

SYEINER-GERINGER, Mary. O Tarô e o Autoconhecimento. Ed. Pensamento, 1989. I

https://m.megacurioso.com.br/historia-e-geografia/45723-aprenda-7-curiosidades-incriveis-sobre-baralhos.htm

http://copag.com.br/tudo-sobre-baralhos/

https://kelmamazziero.wordpress.com/
https://medium.com/@carigcayo/des-mistificando-o-tar%C3%B4-a5b425e7c8ea

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Você pode se interessar também: