sexta-feira, 19 de abril de 2019

Ovo ou o coelho, o que veio primeiro? Conheça a origem de dois tradicionais símbolos da Páscoa.

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É uma fofura sem fim. Na Páscoa, coelhinhos simpáticos e alegres aparecem em desenhos, embalagens, pelúcias, esculturas e em formatos variados de doces, inclusive o chocolate. O símbolo do coelho é, sem dúvida, um dos mais associados à data da Páscoa, apesar de não estar atrelado ao significado cristão propriamente atribuído a essa data, isto é, a Ressurreição de Cristo. 

Mas, se o animal, como a maioria dos mamíferos, não bota ovos, por que, então, se consolidou como um símbolo da maior festa cristã? Para compreender os motivos dessa associação e, mais, para compreendermos o porquê de o coelho ter a “função” de “trazer os ovos” – hoje em dia, de chocolates – da Páscoa, precisamos voltar no tempo.

A tradição do Coelhinho da Páscoa foi trazida para a América pelos imigrantes alemães, entre o final do século XVII e o início do século XVIII.

Uma das narrativas mais conhecidas do mundo conta que uma mulher pobre escondeu ovos coloridos num ninho para entregá-los aos filhos na manhã da festividade religiosa. Contudo, quando as crianças descobriram o lugar, um grande coelho passou rapidamente e espalhou os presentinhos, dando aos pequenos a ilusão de que o bicho carregava e distribuía os ovos.

Outra versão ganhou força no continente americano com a imigração alemã, no século 18. Para os alemães, à época, era muito comum esconder ovos de galinha pintados à mão em grandes quintais para as crianças os encontrarem. Agitados com a movimentação dos pequenos, os coelhos que ali viviam saltavam de suas tocas. Com o tempo, os adultos uniram os ovos e os coelhos numa história, dizendo aos filhos que os animais tinham trazido os presentes de Páscoa.

A lenda da deusa Nórdica Ostara e os ovos e coelhos
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Na Alemanha, o coelho era o símbolo de uma deusa adorada pelos germânicos e anglo-saxões, Isthar ou Ostara (que deu origem a palavra Ostern: Páscoa, em alemão e Easter, em inglês), cujas ilustrações sempre apareciam as lebres, seus animais preferidos e em sua honra se celebrava uma festa durante o mês de abril. Originalmente esta festa servia apenas para homenagear a deusa teutônica.

Conta-se que um dia, Ostara estava em um jardim com as crianças, quando um pássaro voou sobre elas e pousou na mão da Deusa. Ao dizer algumas palavras mágicas, o pássaro se transformou no animal favorito de Ostara, um coleho. O que, maravilhou as crianças. Com o passar dos dias, as  crianças repararam que o coelho ficara triste com a transformação, pois não mais podia cantar e nem voar. As crianças pediram a deusa que revertesse o encanto. Ela tentou de tudo, mas não conseguiu desfazer o encantamento.

A deusa decidiu esperar pelo fim do inverno, pois nesta época do ano seu poder diminuía. O coelho assim permaneceu até a chegada da Primavera. Com os poderes no apogeu, Ostara pode transformar reverter a magia e coelho transformou-se novamente em pássaro, durante algum tempo. Agradecido, o pássaro pôs alguns ovos em homenagem a ela. Em celebração à sua liberdade e às crianças, que tinham pedido a deusa para que ele retornasse a sua forma original, o pássaro, pintou os ovos e os distribuiu pelo mundo. 

Para lembrar às pessoas de que não podem interferir no livre-arbítrio de alguém, Ostara entalhou a figura de uma lebre na lua, que pode ser vista até hoje por nós.
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No século VIII, os anglo-saxões transferiram o nome de Easter também à festa cristã que celebra a Ressurreição de Cristo, adaptando o nome da festa pagã às tradições cristãs. A cidade de Ostereistedt, na Alemanha, leva esse nome em razão da referência a essa prática.

No período da Idade Média, o culto à Ostara e à estação da Primavera logo passou a ser associado à Ressurreição de Cristo, em face da cristianização dos povos bárbaros. No entanto, a assimilação do mito germânico pelo cristianismo não implicou a abolição total dos ritos a ele associados. A prática da entrega de ovos passou a ser relacionada, portanto, à Páscoa, e não mais à deusa Ostara.
Com a leva de migrações alemãs para o continente americano, essa prática generalizou-se. Os mais antigos registros sobre a lenda alemã do coelho que traz os ovos para as crianças datam de 1678.
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No Antigo Egito, o coelho simbolizava o nascimento e a nova vida. Alguns povos da Antiguidade consideravam o coelho como o símbolo da lua, portanto, é possível que ele tenha se tornado símbolo pascal devido ao fato de a Lua determinar a data da Páscoa. O certo é que os coelhos são notáveis por sua capacidade de reprodução, e geram grandes ninhadas, lembrando assim a renovação da vida, uma das características da Páscoa.
Com o tempo, o coelho tornou-se também símbolo de renascimento, por ser o primeiro animal a sair da toca depois do inverno. "A lebre já foi associada até a Cristo na iconografia cristã, com orelhas grandes para escutar melhor a palavra de Deus", observa o pesquisador Evaristo de Miranda. Mas não só isso, há mais contextos envolvendo o cristianismo aos coelhos!

A teoria da origem Cristã para os coelhos da páscoa

Algumas teorias também apontam que o coelho da Páscoa pode ter surgido do Cristianismo, conforme pontuaremos nesta parte. Primeiramente, deve ser mencionado que as possíveis origens cristãs do coelho da Páscoa têm associação inicial com a lebre. Com o passar do tempo, a figura da lebre foi sendo substituída pela do coelho, um animal mais dócil e que se encaixava nas tentativas de tornar a Páscoa uma comemoração mais doméstica, conforme mencionamos no começo deste texto.

Em inúmeras construções de iconografia cristã, a lebre (ou o coelho) aparecia, e, aparentemente, na mentalidade cristã da Idade Média, existia uma relação (muito estranha para nós) da lebre com a virgindade. Isso fazia com que o animal aparecesse junto à Virgem Maria, e a origem dessa colocação pode ocorrer pelo fato de que muitos acreditavam que a lebre era um animal que se reproduzia assexuadamente.

Essa colocação das lebres (e coelhos) ao lado da Virgem Maria resultou até em uma obra de arte conhecida como “A Virgem com o coelho”. Essa pintura foi produzida por Tiziano Vecellio e mostra a Virgem Maria segurando um coelho branco, o qual era enxergado como um símbolo de pureza.
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Além disso, existe uma gama de outros objetos da iconografia cristã em que há a presença de coelhos e lebres, como os encontrados em Devon, na Inglaterra. Nas igrejas medievais dessa cidade inglesa, existem uma série de cruzes que possuem um círculo com três lebres (ou coelhos) interligados pela orelha. As teorias que explicam esse círculo de lebres são as duas seguintes:
·         As lebres (ou coelhos) eram entendidas como um símbolo de castidade, pela crença existente de que elas conseguiam reproduzir-se sem perder a virgindade.
·         Esses animais eram representados como um símbolo da Trindade, importante conceito do Cristianismo.

Inclusive, os historiadores identificaram um padrão no qual, em diversos locais, o círculo com as três lebres era colocado próximo a símbolos pagãos, o que sugere uma substituição de um ícone pagão por um ícone cristão.
Representação moderna do círculo de três lebres.Imagem relacionada
Por fim, uma outra teoria sugere que a associação do coelho com a Páscoa foi obra dos protestantes, que afirmavam, para as crianças, que os ovos acumulados (resultado da Quaresma) eram trazidos pelos coelhos, sob a ótica que esses eram símbolos de fertilidade. Mas essa história soa contraditória visto que os Protestantes enfatizam o Cordeiro (Cristo) como símbolo da Páscoa no Novo Testamento.
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A origem da prática de presentear com ovos

O ovo, por sua vez, é um símbolo de vida e renascimento. Logo, estabeleceu-se o hábito de presentear uns aos outros com ovos de galinha. Alguns historiadores especulam que essa tradição teria surgido entre os persas. Outros atribuem sua origem aos chineses.
"Muitos séculos antes do nascimento de Cristo, a troca de ovos no equinócio da primavera, comemorado no dia 21 de março no hemisfério Norte, era um costume que celebrava o fim do inverno", explica o monsenhor André Sampaio Oliveira, doutor em Direito Canônico.
"Quando a Páscoa cristã começou a ser celebrada, o rito pagão de festejar a primavera foi integrado à Semana Santa. Os cristãos, então, passaram a ver no ovo um símbolo da ressurreição de Jesus."
Foi uma questão de tempo para que os ovos presenteados passassem a ser ornamentados. Na Idade Média, as cascas dos ovos de galinha eram pintados à mão.
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"Na Alemanha, os ovos coloridos são pendurados nos galhos das árvores, como se fossem bolas de Natal. Na Rússia, são colocados nos túmulos como homenagem aos que já se foram. Na Itália, as mesas da ceia pascal são decoradas com ovos coloridos", exemplifica o escritor e pesquisador Evaristo Eduardo de Miranda, autor do livro Guia de Curiosidades Católicas.
Os czares russos elevaram o hábito de dar ovos de presente a um novo patamar. Entre 1885 e 1916, 50 ovos foram encomendados a Peter Carl Fabergé, um famoso joalheiro russo, pelos czares Alexandre 3º e Nicolau 2º.
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Um deles, dado de presente por Alexandre 3º para sua mulher, a imperatriz Marie Feodorovna, trazia em seu interior um relógio cravejado de safiras e diamantes. Em abril de 2014, o mimo, de 8,2 cm de altura, foi avaliado em US$ 20 milhões.
Por volta do século 18, os confeiteiros franceses resolveram experimentar uma nova técnica de preparo: que tal esvaziar os ovos e recheá-los de chocolate? Um século depois, os ovos passaram a ser feitos de chocolate e recheados por bombons. A invencionice gastronômica foi aprovada até por quem não vê qualquer significado religioso em ovos e coelhos.
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"Na perspectiva histórica, não é possível precisar a origem do coelho e dos ovos de Páscoa. No máximo, é possível saber que não há uma única versão, mas diversas, todas válidas, narradas pelos mais diferentes povos e culturas", esclarece o doutorando em História pela Universidade de Campinas (Unicamp) Jefferson Ramalho.
"Para nós, historiadores, o mais importante não é identificar a 'verdadeira história', mas decifrar os significados atribuídos a esses símbolos e as ideias que eles procuram transmitir", completa.
Então, qual a conexão? Em resumo de tudo que vimos, podemos dizer que a  Páscoa, a primavera, os coelhos e os ovos compartilham uma ideia em comum: o nascimento — e o renascimento. E principalmente, o significado sublime da Páscoa para os cristãos do mundo todo: a morte e ressurreição de Cristo conforme profetizada e cumprida na Bíblia Sagrada.
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Daniel Bastos

terça-feira, 9 de abril de 2019

A Essência da Alquimia


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A alquimia é uma fonte inesgotável de fascínio e encantamento. Nenhum tema intrigou tanto e tão profundamente os sábios de todas as épocas e latitudes como a transmutação dos metais. Grandes pensadores como São Tomás de Aquino ou Isaac Newton dedicaram-lhe todo o seu talento e sabedoria. A literatura e as artes abraçaram-na desde sempre. A ciência moderna tem vindo, enfim, a demonstrar que muitos dos seus antigos ensinamentos são afinal verdadeiros e rigorosos.

Tudo isto não significa, porém, que a arte de Hermes seja hoje um saber generalizado e facilmente acessível a todos ou que a Pedra Filosofal se tenha convertido numa espécie de bem do domínio público. Bem pelo contrário, a alquimia continua tão obscura e enigmática como nos tempos remotos de Hermes Trismegisto ou Maria a Profetisa.


A alquimia é uma arte divina, a mais valiosa das dádivas de Deus, e só deve ser praticada pelos adeptos sinceros e de coração puro. A sua Pedra Filosofal é a verdadeira quinta-essência universal, capaz de transmutar todos os metais em ouro; é também designada Medicina Universalou Panaceia, pois remove as causas últimas das doenças, e Fonte da Juventude, pois ela é o bálsamo da Natureza que rejuvenesce o corpo e prolonga a vida para além da sua duração normal – é aliás curioso sublinhar que todos os verdadeiros alquimistas tiveram vidas invulgarmente longas para as suas épocas.

Ora, é facilmente compreensível que um bem dessa grandeza não deva cair nas mãos erradas e que a alquimia seja por isso cuidadosa na ocultação dos seus segredos. «Tenho o mundo nas minhas mãos» é uma afirmação recorrentemente ouvida na boca dos poucos que conseguiram aceder ao milagre da transmutação. Conta-se que já em Junho de 1937, o escritor francês Jacques Bergier foi visitado por um estranho alquimista que, antes de ter desaparecido tão misteriosamente como surgiu, o alertou para os perigos da energia nuclear. Aliás, a desintegração do átomo e a investigação atómica foram já consideradas como uma «anti-alquimia» e a bomba atómica como «o oposto à Pedra Filosofal».

A arte alquímica inspirou numerosos livros, mas nenhum deles fala com clareza. Porque os adeptos sempre recearam as acusações de heresia ou os raptos por homens poderosos que os forçassem a produzir ouro, a simbologia desempenha um papel central nos seus escritos e imagens. Diz-se que estes textos «ocultam segredos abertamente», pois enquanto que os versados conseguem discernir o seu significado com clareza, todas as outras pessoas não vêem senão amontoados desconexos de palavras: para além dos símbolos caracteristicamente alquímicos, como o Leão Verde ou o Ouroboros, abundam os enigmas, os trocadilhos e assonâncias. É a chamada Linguagem dos Pássaros ou Linguagem Verde.

Vários filósofos herméticos têm sugerido um método que o estudioso sério pode utilizar como um fio de Ariane para encontrar um caminho através desta obscuridade labiríntica da linguagem alquímica: seleccionar os melhores livros; lê-los e relê-los, comparando os trechos onde eles concordam, pois aí há verdade para ser encontrada. Comparar também onde diferem e como diferem, pois mais descobertas serão feitas. Suspeitar sempre que eles pareçam falar com mais clareza e simplicidade; e meditar nas passagens em que são mais obscuros. Deste modo, o padrão da verdade emergirá gradualmente, tal como a marca de água de um papel colocado defronte da luz.

Só os livros, porém, não chegam. A teoria deve preceder a prática, mas a prática deve, por sua vez, testar a teoria. Apesar de alguns entendimentos em sentido contrário, como os de Jung ou Mary Ann Atwood, a verdade é que não pode haver alquimia sem operações físicas, tal como não pode haver peixes sem água.

O laboratório é o local onde o alquimista realiza essas operações e dele devem constar os aparelhos essenciais à realização da Grande Obra, designadamente o forno, designado atanor, o ovo filosófico e a tigela; e como o fogo do forno deverá estar permanentemente aceso, é também indispensável um tubo de evacuação e uma chaminé, sendo pois necessário que a divisão utilizada, que tanto pode ser a cozinha, a cave ou outra qualquer, possua tais equipamentos.

A esta divisão deve acrescer o oratório, lugar reservado às preces e à meditação – ainda que, por razões de espaço, nem sempre seja fácil instalá-lo. Note-se, aliás, que a palavra laboratorium é composta precisamente de labor e oratorium, pois o laboratório do alquimista é destinado em igual medida ao trabalho e à oração.
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Um laboratório que acabou por se tornar célebre foi o do alquimista inglês John Kellerman, que Sir Richard Phillips descreveu no seu livro A Personal Tour Through the United Kingdom (1928). Phillips fala de uma casa isolada e extremamente desarrumada, repleta com os instrumentos e recipientes habituais. Apenas uma divisão era ocupada por Kellerman; todas as outras estavam fechadas a cadeado e tinham as janelas barricadas.

John Kellerman contou que tinha conseguido produzir ouro e que se tinha oferecido para pagar a dívida externa do país: uma oferta que o Lorde Liverpool recusou em nome do rei. Idêntica oferta tinha sido feita ao governo francês, que também recusou. Afirmou ainda que todos os governos europeus sabiam da sua descoberta e que já tinha sido alvo de várias tentativas de assassinato, pelo que tinha todas aquelas preocupações com a segurança pessoal e andava sempre armado. Pouco tempo após a visita de Phillips, Kellerman desapareceu misteriosamente e nunca mais foi visto.

John Kellerman não é um caso único. Os alquimistas são seres forçosamente tímidos, esquivos e discretos – o que, nos nossos dias de mediatismo desenfreado, pode parecer particularmente excêntrico. Muitos Autores formularam listas dessas e doutras qualidades que devem possuir os verdadeiros alquimistas e que os distinguem dos intrujões comummente chamados de assopradores – uma referência aos foles que eram utilizados para manter aceso o fogo nos laboratórios.

Um daqueles Autores foi Alberto o Grande, que resumiu no seu tratado De Alchimia as virtudes dos verdadeiros adeptos: ele deve ser discreto, calado e não revelar a ninguém o resultado do seu trabalho; ele deve morar sozinho numa casa isolada; ele deve escolher os dias e horas que lhe permitam trabalhar com discrição; ele deve possuir paciência, diligência e perseverança; ele deve realizar a obra segundo as regras previamente estabelecidas; ele deve usar apenas recipientes de vidro ou de barro envernizado; ele deve ser suficientemente rico para suportar as despesas da sua arte; ele deve evitar quaisquer contactos com príncipes e nobres.

Este último preceito é particularmente importante, pois a relação entre alquimistas e poder político foi sempre conturbada. Já em 144 a.C., o Imperador chinês emitia um decreto proibindo expressamente a produção de ouro, no que foi mais tarde seguido pelo Imperador Diocleciano de Roma em 296 d.C., pelo Papa João XXII na sua bula de 1317 ou por Henrique IV de Inglaterra no ano de 1403.

Esta perseguição secular aos alquimistas esteve também na origem das suas viagens constantes e Portugal, país místico por excelência, foi um ponto de paragem preferencial. O grande Paracelso, que aos 14 anos deixou a casa paterna e começou uma série interminável de viagens para conquistar os seus graus na «Universidade Universal», também por cá passou, talvez em 1518.

Outros alquimistas insignes como Arnaldo de Vilanova, Nicolau Flamel, Bernardo-o-Trevisano ou Raimundo Lúlio também deixaram a sua marca junto dos adeptos portugueses. O mais célebre destes será o «Rei Alphonso de Portugal», que surge referido como autor de dois tratados sobre alquimia e que se julga ser Afonso V: um rei culto, místico, cavaleiro e perdulário, que ficou a dever o seu cognome de O Africano às suas incursões contra os muçulmanos em África. Num desses textos, o rei sublinha o carácter cifrado e misterioso da linguagem alquímica e apela à discrição de todos quantos a consigam compreender.
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Será então que todos estes escolhos devem demover os iniciantes da grande viagem alquímica? Sir Francis Bacon gostava de contar a este propósito a fábula do pai que deixou uma propriedade aos seus filhos dizendo que nela se encontrava um tesouro. Os filhos cavaram por todo o lado durante largas semanas sem nada encontrar, mas o campo assim trabalhado tornou-se muito mais fértil porque… era esse o tesouro! Ora, segundo este Autor, o mesmo sucede com a alquimia.

A Pedra Filosofal está em toda a parte e ao alcance de todos, ricos ou pobres. Aceder-lhe é mais simples do que parece, mas exige do viajante perseverança, humildade e um espírito aberto ao maravilhoso por detrás das coisas do quotidiano. Sujeitemo-nos por isso com paciência a esta provação, que é na realidade uma iniciação: «apressa-te lentamente, pois a precipitação é obra do Diabo».



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Daniel Bastos


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